Existem duas categorias de artistas: aqueles que pintam pelo resultado e com a mente, e outros que pintam vibrando pelo processo criativo e pela paixão do coração aberto a sensações. Ambas as tendências são válidas, mas Fatima Marques faz parte da segunda identidade.
Suas obras não pedem somente para serem admiradas, mas de serem vivenciadas no âmago de sua inspiração. A presença feminina na arte permite reflexões e discussões que, através das obras de Fatima Marques, são exemplos que indicam arte, mistério e sedução que provém do ser feminino, também imaterial. Símbolo de sonhos e desejos, elas formam uma imagem remanescente que pode ser alcançada, através do sonho, da esperança e do desejo.
Fatima Marques, retrata figuras femininas dentro de contextos dos mais variados na dimensão da criatividade, que vão além da corporalidade, e injeta em suas obras o amor, a dor e a piedade. Ela é, pois, uma criadora de sentimentos que não esquece de ser antes de tudo, uma artista. Eis porque ela discute, através da sua obra, aspectos da vida contemporânea, de uma maneira poética e cativante.
A artista deixa – se influenciar tanto pelos pintores renascentistas e barrocos (quanto a técnica), como pelos contemporâneos (quanto ao estilo), embora na busca de um estilo sofisticado e de técnica apurada. A intenção decorativa em sua obra não a impede de limitar seus requintes estéticos deixando sobressair o calor humano de uma forma viva, espontânea e concisa. Na dinâmica de sua composição conjuga-se a síntese da visão subjetiva bem como a disposição das cores captadas ao vivo. Por detrás das cenas que retrata, é a luz que separa os vários componentes, neles concentrando até mesmo uma certa dramaticidade. O lirismo de sua pintura possui tanto uma estrutura orgânica quanto depura os meios expressivos. Através de cortes audaciosos e assimétricos, em rica policromia seus temas são tratados numa dinâmica e estática alternadas, mas de grande plasticidade.
A complexa relação entre pintura e realidade é parte fundamental da ideia da própria arte. Mas não se trata, obviamente, de uma relação que permaneceu constante no tempo; assim como não permanecerá imóvel a capacidade de Fatima Marques de observar e colher tudo o que observa e a circunda. O que permaneceu invariável é o conceito de realidade que, na sua mesmo mutável aparência, continua a ser o intrigado complexo de imagens, objetos, situações e pessoas sempre ali prontas para serem capturadas e transformadas pela artista em metáforas daqueles sentimentos, emoções e reações que são a causa de seu impulso criativo.
Fonte: Crítica de Emanuel von Lauenstein Massarani
Crítico de arte e Presidente do IPH – Instituto de
Recuperação do Patrimônio Histórico no Estado de São Paulo