A arte é nada mais do que tornar sublime o que se percebe. Portanto, não há nada de mais primordial na arte do que tratar de percepção. O que seriam as artes visuais senão fazer com que o sujeito passe a perceber cores e formas como beleza e sensação? Na essência da música, está tornar vibrações no ar em sentimento.
Na série Janelas e Percepção, o artista Luiz Bhittencourt trata justamente desses conceitos. O observador é levedo a olhar por um espelho: o que ele vê, faz com que ele questione como sou visto”. É uma metalinguagem quase cartesiana, do percebo, logo sou percebido. Remete a Munch, com uma intensidade cromática e dinamismo expressionistas de grande sofisticação.
Trata-se de uma obra intima para quem observa. É um exercício de exposição do self, numa sociedade que hoje paradoxalmente se expõe escancaradamente através de pequenas janelas de plástico e chips e ao mesmo tempo se isola compenetrada em uma tela eletrônica. É uma obra extremamente provocativa a um mundo que se acostumou a se mostrar, mas se desacostumou a ser visto.
Por isso, há de se repetir a afirmação: as janelas emolduradas na obra de Luiz Bhittencourt são como molduras de um espelho: provocam o reflexo e extraem reflexão.
Fonte: Crítica de Douglas Marthim de Oliveira
Psicólogo Social;
Formado pela UniA – Centro Universitário de Santo André – São Paulo;
Terapeuta Palestrante, Membro do Conselho Municipal de Igualdade Racial da Estância Turística de Ribeirão Pires.
Fotos: André Diaz e Dimas Cardoso